Policial preso em MT recusa cela especial e fará pós graduação na prisão

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Preso pela Polícia Federal na Operação Cérberus, que desarticulou uma quadrilha comandada por policiais e ex-policiais civis e militares que roubava drogas de traficantes e depois revendia para criminosos rivais, o réu Renan Araújo Queiroz, desistiu de ficar em cela especial, benefício concedido a ele por ter formação em nível superior. A juíza Ana Cristina da Silva Mendes, da 7ª Vara Criminal de Cuiabá, havia acolhido o pedido da defesa e determinado que Renan fosse transferido para uma unidade prisional com cela especial.

Em 20 de janeiro, a defesa de Renan, que é réu em ação penal pelos crimes de organização criminosa armada com a participação de funcionários público, tráfico de drogas e roubo majorado, requereu em caráter de urgência, o benefício da prisão em cela especial, para que ele fosse recolhido em compartimento especial e separado dos presos comuns, por possuir nível superior. Requereu ainda que ele fosse levado para o Centro de Custódia da Capital (CCC) sob alegação de que estaria correndo risco de morte no Centro de Ressocialização da Capital (CRC), por ser irmão de uma agente prisional.

Ana Cristina da Silva concedeu o benefício no dia 29 de janeiro. À ocasião, ela determinou o envio de ofício à Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp-MT) para que transferisse o preso para estabelecimento prisional com cela especial. Ocorre que, depois disso, o réu desistiu e quis continuar preso no CRC.

“Consta a juntada da defesa de Renan Araújo Queiroz, requerendo a desistência do pedido de transferência para cela especial, tendo em vista que o mesmo se encontra trabalhando no Centro de Ressocialização de Cuiabá, e participará  de um projeto que será implantado pelo MM. Juiz de Direito da Segunda Vara Criminal de Cuiabá, bem como passou no Enem e cursará Pós Graduação em Curso Superior”, diz um despacho assinado pela magistrada no dia 28 de abril.

Diante da situação inusitada, a juíza Ana Cristina atendeu a vontade do preso. “Considerando o teor da petição  id.50190341, revogo a decisão datada do dia 29.01.2021, no que concerne o pedido de transferência para cela especial do  acusado Renan Araújo Queiroz, tendo em vista o pedido de desistência formulado pelo mesmo”, decidiu a magistrada.

OPERAÇÃO CÉRBERUS

A Operação Cérberus foi deflagrada pela Polícia Federal no dia 4 de novembro de 2020 para cumprir 7 mandados de busca e apreensão e outros 3 de prisão temporária expedidos pela 7ª Vara Criminal contra membros de uma organização criminosa voltada ao tráfico de drogas e extorsão. A Justiça determinou ainda o bloqueio de até R$ 5,5 milhões das contas dos envolvidos no esquema e também o sequestro de veículos e imóveis registrados em nome deles. As investigações apontaram que dois policiais na ativa e policiais civis e militares já excluídos da corporação participavam da quadrilha. A operação teve como objetivo prender lideranças e sequestrar bens do grupo para evitar a formação de uma possível milícia em Mato Grosso.

A PF informou que os suspeitos estavam roubando carregamentos de drogas e vendendo o material para outros criminosos. Confome a PF, alguns dos investigados tinham antecedentes criminais extremamente violentos, com passagens por extorsão, homicídios e tráfico de drogas. No caso de Renan a prisão em flagrante foi convertida em preventiva em outubro de 2020.

DENÚNCIA RECEBIDA

A denúncia contra 9 investigados feita pelo Ministério Público foi recebida pela juíza Ana Cristina Mendes no dia 21 de dezembro de 2020. No mesmo despacho a magistrada expediu mandado de prisão preventiva contra o réu Everaldo Alves Ferreira e impôs medidas cautelares a serem cumpridas por Dionísio Ilário dos Santos Neto com uso de tornozeleira eletrônica. Ele é investigador efetivo da Polícia Civil e tem salário de R$ 11,7 mil.

A denúncia tem por base um inquérito policial instaurado em 2020 pela Polícia Federal no qual “foi possível constatar a existência de suposto esquema criminoso praticados por policiais e ex-policiais civis e militares de modo organizado, através da prática conhecida por “arrocho”, roubando droga de traficantes para posteriormente revender a carga ilícita a outros traficantes”.

Foram elencados 6 fatos criminosos com a participação dos réus. A peça acusatória aponta que entre os meses de março a outubro de 2020, em Mato Grosso, os réus Raimundo Gonçalves de Queiroz, Renan Araújo Queiroz, Vail da Silva Abreu, José de Barros Costa, Adelso Francisco dos Santos (sargento da Polícia Militar), Everaldo Alves Ferreira, Dionísio Ilário dos Santos Neto e Eudirza Regina da Silva Moraes integravam ativamente a organização criminosa, cuja atuação seria no roubo de cargas de substâncias entorpecentes e no tráfico de drogas. O 9º réu é Fernando Paulo da Silva, que não era membro ativo da quadrilha.

Um dos fatos narrados no relatório policial e citado na denúncia aponta que no período entre 11 e 12 de setembro de 2020, na região conhecida como Pedro Neca, em Porto Esperidião/MT, os denunciados Raimundo, Renan, Vail, José, Adelson, Everaldo e Dionísio mediante grave ameaça exercida com emprego de armas de fogo, teriam subtraído 350 de cocaína de outros traficantes, bem como uma carreta Volvo NL/10 340, de cor branca, placa JYE1572, com reboque, basculante, que fazia o transporte de drogas.

Outro fato citado pelos investigadores informa que no dia 16 de outubro de 2020, no Posto Amarelinho, situado na Avenida das Torres, em Cuiabá, bem como numa residência da Rua 04, bairro Residencial Belita Costa Marques, os 8 réus teriam transportado e vendido 117,55 quilos de cocaína a Fernando Paulo da Silva, que as adquiriu para consumo de terceiros.

Fonte: Folhamax