No segundo pico de casos da Covid-19, Mato Grosso já registrou mesmo número de gestantes vítimas em comparação ao acumulado desde o início da pandemia. Neste ano, em cinco meses, 14 gestantes já morreram após contraírem a doença. Em 2020, durante os nove meses de pandemia, após a primeira morte por Covid-19 ser registrada em abril, foram 14.
De acordo com o obstetra e presidente da Associação Mato-grossense de Ginecologia e Obstetrícia de Mato Grosso (Somago), Angelo Barrinouevo, o sistema imunológico das mulheres fica “enfraquecido” durante o processo de gestação, fazendo com que o organismo fique mais suscetível a infecções.
“Sabemos que a gestante por alterações fisiológicas da gestação tem um risco maior [de contaminação], alguns estudos falam de risco 10 vezes maior da doença evoluir para uma forma mais grave do que em uma mulher não gestante. Temos dados que assustam bastante, são evidências preocupantes”, avaliou.
O obstetra explicou que, além do risco existente durante a gravidez, os especialistas veem uma mudança no perfil do grupo de risco da Covid-19 após mutações do novo coronavírus. No começo da pandemia, por exemplo, os idosos representavam a maior parte das vítimas e eram maioria nas UTIs.
No entanto, essa característica mudou durante o segundo pico da pandemia no Brasil. Barrionuevo percebeu, na rotina do consultório, que a internação de gestantes passou a ser constante.
O obstetra atende no Hospital Universitário Júlio Muller, em Cuiabá. Na unidade, oito gestantes chegaram a ficar internadas na UTI durante o mesmo período, além de até nove em leitos de enfermaria.
“É uma nova cepa que acaba sendo mais agressiva para gestantes, como também é para pacientes que não são idosos e sem comorbidades. Vimos, na prática, um aumento que a princípio foi assustador”, relatou.
Inclusão no grupo prioritário
Com base nos dados, Barrionuevo explicou que buscou autoridades do Governo Estadual e Municipal para alertar sobre a inclusão de gestantes, puérperas (que acabaram de dar à luz) e mulheres que ainda estejam amamentando, no grupo de prioridade da imunização contra a Covid-19.
“Além das pacientes que morreram, têm as que foram acometidas com a doença. É um incidente muito grande, porque vimos que estavam contraindo a Covid-19 em um grau muito mais grave que no ano passado. Isso fez com que nos mobilizássemos e, na semana passada, veio uma determinação do Governo Federal para que todas sejam incluídas como prioritárias”, disse.
A Prefeitura de Cuiabá vai usar o lote de vacinas da Pfizer para dar início a vacinação de mulheres com gravidez de risco.
De acordo com Barrionuevo, o laboratório já fez estudos sobre a imunização de gestantes e não foram constatadas complicações na mulher e no bebê.
Além disso, ele explicou que a Coronavac, produzida com vírus inativo, e a Astrazeneza, que utiliza tecnologia de vetor viral, também não oferecem riscos às grávidas.
“Analisamos a maneira como essas vacinas são produzidas. São métodos já consagrados de produção de vacinas, ou seja, temos outras que são aplicadas em gestantes fabricadas da mesma maneira”, ressaltou.
O obstetra reforçou a recomendação de que gestantes sejam afastadas do trabalho presencial por conta do alto risco de serem contraírem Covid-19. De acordo com ele, a recomendação do Ministério do Trabalho prevê o procedimento em qualquer atividade exercida por grávidas.
“Se não for possível, que sejam encaminhadas para o INSS. Mas recomendamos que não trabalhem presencialmente, que tenham um cuidado maior nesse momento”, alertou.
Fonte: Midianews