Além da falta de insumos básicos e entrega de EPIs fora de padrão, pessoal de enfermagem ainda estaria sofrendo assédio moral numa das cidades em que mais cresce o número de novos doentes de Covid-19.
Técnicos de enfermagem, enfermeiros e fisioterapeutas realizaram, na tarde deste sábado 20/06/2020, uma manifestação em frente ao antigo Pronto Socorro, para protestar contra a fiscalização divulgada na última sexta-feira (19), em que a Secretaria de Saúde de Cuiabá afirmou que havia equipamentos de proteção individual (EPIs) escondidos em armários de servidores do hospital de referência para o tratamento de Covid-19. Os profissionais negam a acusação e afirmam que os únicos equipamentos guardados ali eram os de uso individual.
Uma das funcionárias, que não quis se identificar por medo de sofrer retaliação, afirmou que a quantidade de EPIs supostamente encontrada daria para no máximo dois plantões.
“A gente entra pra trabalhar e faz um plantão de doze horas sem nem tomar água, porque falta EPI e a gente não pode sair”, afirmou. “Não temos nem cama para dormir”.
Segundo a funcionária, só estavam dentro dos armários individuais os face Shields, óculos e máscaras, que não podem ser levados para casa pelo perigo de infecção. “Mas não tinha avental, macacão, nada daquilo dentro do armário. Na noite anterior trabalhamos sem avental porque não tinha pra entregar, como que ontem apareceu aquilo tudo?”, questionou.
Outra acusação dos servidores é de que os armários individuais foram arrombados, sem a presença dos respectivos donos. Sobre as exonerações, eles afirmam que nada foi informado aos funcionários até o momento. “Eles só falaram pra mídia. A vistoria foi 15 h, quando foi 18 h já estava na mídia, todo mundo chamando técnico e os enfermeiros de ladrão”, lamenta.
A Frente Popular em Defesa do Serviço Público e de Solidariedade ao Enfrentamento à Covid-19 também emitiu uma nota:
NOTA DE REPÚDIO
A Frente Popular em Defesa do Serviço Público e de Solidariedade ao Enfrentamento à Covid-19 manifesta seu mais profundo repúdio à ação difamatória e de assédio moral coletivo da Prefeitura de Cuiabá que, a pretexto de realizar vistoria, violou os armários dos trabalhadores no Hospital de Referência para Covid-19 e os expôs a situação vexatória com acusações não comprovadas de retenção de EPI e extravio de forma ilícita, de forma vertical aplicando penalidades.
Agindo dessa forma, a gestão municipal reproduz a prática de caluniar as/os trabalhadores da saúde, perseguir e tentar silenciar as denúncias de descaso para com suas condições de trabalho num momento em que o sistema de saúde já está além de seu limite como consequência do relaxamento das políticas de garantia de isolamento social digno a toda a população.
Outro lado
A Secretaria se manifestou por meio de nota:
A Secretaria Municipal de Saúde informa:
-A fiscalização nos armários do Hospital Referência foi realizada após reclamação de servidores sobre falta de EPIs nas unidades.
-A vistoria foi realizada com o acompanhamento do responsável do setor de enfermagem do hospital e pela coordenadora administrativa.
-Cada servidor recebe o kit de EPIs para o plantão que irá atuar, com exceção de itens como face shield e óculos, que não são itens descartáveis e da máscara PFF3, que tem uma duração maior do que as máscaras cirúrgicas. A cada plantão o servidor recebe um kit e assina um documento.
-Os servidores que estavam de plantão no momento da fiscalização foram chamados e solicitados para que abrissem seus armários. A quantidade de EPIs encontradas nos armários não condiz com o que é distribuído a cada plantão.
-Após começarem a fiscalização e os servidores tomarem conhecimento do ato, em setores mais afastados de onde a vistoria começou, a comissão encontrou grande quantidade de EPIs novos em um saco de lixo.
-A vistoria foi filmada e fotografada. O secretário responsável pela unidade fez um Boletim de Ocorrência sobre o ocorrido e encaminhou as fotos e gravações para que a polícia faça a investigação.
-A denúncia de que não existe sala de descanso para os funcionários é falsa. Todos os servidores do plantão tem locais para descansar, como em qualquer hospital.
-A Prefeitura Municipal de Cuiabá lamenta profundamente que este tipo de ato esteja ocorrendo dentro de um hospital escolhido para salvar vidas das pessoas acometidas por uma doença que tem levado a óbito milhares de pessoas no mundo inteiro. Neste momento a maior preocupação da gestão é enfrentar a pandemia. O mundo inteiro está passando por dificuldades imensas devido ao coronavírus e agora é a hora de esquecer diferenças políticas e focar em salvar vidas.
(Com informações do Olhar Direto)