Afrodite Almeida Araújo, 70 anos, tornou-se estrela de uma campanha a favor da diversidade feita pela Shell. Ela protagoniza um dos episódios da série “De Causo em Causo”, que conta as histórias de caminhoneiros do Brasil. Na produção audiovisual, a moradora de Cuiabá detalha as experiências que passou ao longo da vida e aborda o fato de ter descoberto que é uma pessoa transgênero.
“Não sou caminhoneiro que virou caminhoneira. Sou uma caminhoneira que estava presa no corpo de um homem. Venci muitos preconceitos e hoje sou feliz”, afirma Afrodite, em um vestido rosa, dentro do caminhão.
Ela declara que, apesar de ter nascido no gênero masculino, sempre sentiu que havia algo errado consigo. Desde a infância, se considerava uma garota e perguntava com frequência à mãe sobre o motivo de não ter seios.
Ao longo da vida, ela já trabalhou como eletricista e foi soldado do Exército Brasileiro. Nas últimas décadas, tornou-se caminhoneira e conciliou a ocupação com outras funções, como a de pastor de uma igreja evangélica de Cuiabá. Afrodite nasceu em Jacarezinho (PR) e mora na capital mato-grossense há mais de três décadas.
Na produção da Shell, a caminhoneira mostra o documento de identidade, ainda com informações masculinas, e ressalta: “O Heraldo morreu e nasceu Afrodite”.
Desde que passou a pedir para ser chamada de Afrodite, em homenagem à deusa grega da beleza, ela nunca mais usou roupas masculinas. A partir de então, utiliza somente vestimentas consideradas femininas, que antes usava apenas dentro da própria casa, longe dos olhares desconhecidos.
Afrodite já foi casada com duas mulheres. Do primeiro relacionamento, nasceu a única filha, a publicitária Tatiana Gonçalves, que hoje mora em Curitiba (PR). Na propaganda da Shell, elas conversam ao telefone e a caminhoneira diz que sente saudades de Tatiana. “Quando fui pai, me senti realizada, porque me identifiquei muito com a minha filha”, conta. As duas têm um boa relação e Tatiana apoia a nova fase do pai.
A caminhoneira nunca passou por nenhuma intervenção cirúrgica. Para o futuro, ela sonha em colocar silicone e fazer procedimento de redesignação sexual – popularmente conhecida como mudança de sexo. Ela faz tratamento hormonal e planeja alterar o nome em todos os documentos.
Abaixo, veja a propaganda da Shell com Afrodite:
Repercussão
Afrodite tornou-se conhecida nacionalmente em janeiro de 2018, quando teve a história de vida contada em uma reportagem da BBC News Brasil. Neste ano, após a produção para a Shell, foi entrevistada pela Folha de São Paulo.
Nas entrevistas, a caminhoneira relatou que vivenciou diversas situações discriminatórias desde que assumiu publicamente o fato de ser transgênero. O preconceito, segundo ela, foi enfrentado até mesmo entre familiares. “Falaram que eu estava ficando maluca. Foram me isolando e até me proibiram de atender clientes”, afirmou, em entrevista à BBC News Brasil, ao comentar sobre a relação com os irmãos.
Vídeo da Shell
O vídeo de Afrodite foi publicado nas redes sociais da Shell nesta semana, em homenagem ao mês da diversidade – como é considerado junho. No Facebook, o “amei” foi a reação mais popular. Diversos internautas elogiaram a produção.
“Parabéns por essa iniciativa muito linda, Shell. Fico muito feliz quando vejo pessoas sendo o que querem ser e de uma forma que não deixa o preconceito abalar”, escreveu um rapaz. “Que história sensacional! Parabéns à equipe de marketing, isso mostra o zero preconceito e viva a diversidade”, disse outro.
Fonte: RD News