“Cuiabá tem uma riqueza imensurável”, afirma o arquiteto e ex-superintendente do Instituto de Planejamento e Desenvolvimento Urbano (IPDU), Benedito Libânio. Nascido em Cuiabá, o profissional viu o crescimento da cidade e participou dessa evolução enquanto esteve no instituto.
As ruelas, casarões antigos, praças inspiradas na arquitetura lusitana, lembram os tempos glamourosos da Capital, enquanto a população se concentrava em torno do Centro Histórico, que hoje recebe tímida revitalização.
Prestes a completar 300 anos, Cuiabá teve seu crescimento alavancado na segunda metade do século passado, quando houve a divisão do estado e criação de Mato Grosso do Sul. Com aporte de dinheiro do Governo Federal e migração de pessoas de outras regiões, que vieram para cá atraídas pelos empregos gerados na agricultura.
O rompimento da fronteira agrícola e o recebimento de imigrantes fez com que Cuiabá apresentasse um crescimento médio de 8% ao ano, na década de 1980.
“Até então tudo se concentrava em torno em torno da Prainha e o crescimento aconteceu a partir dali”, lembra o arquiteto.
Obras importantes realizadas nas décadas de 1970 e 1980 marcam o crescimento de Cuiabá. A abertura e pavimentação da Avenida Getúlio Vargas, uma das principais vias do centro ainda hoje, grandes construções foram erguidas no local, que abriga o Cine Teatro, Tribunal de Justiça e grandes hotéis.
A implementação da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) incentivou a expansão da cidade para a região do Coxipó. Ocupação reforçada também pela presença do 9º Batalhão de Engenharia e Construção (9° BEC).
Foi nessa época, também, que surgiu o Centro Político Administrativo (CPA), sede de instituições do governo, e o CPA residencial que compreende quatro etapas, atualmente.
“Nessa época havia um projeto setorial, no qual as pessoas trabalhavam em um lugar e moravam em outro, temos como exemplo o CPA”, conta.
A construção da Rodoviária de Cuiabá Engenheiro Cássio Veiga de Sá marca o período de crescimento da Capital. Imponente e planejada, sua arquitetura é, ainda hoje, referência de funcionalidade e aproveitamento das condições do solo.
Apesar de grande desenvolvimento nessa época, Cuiabá ganhou seu primeiro Plano Diretor em 1992. O documento registra a projeção do que será feito na cidade pelos próximos 10 anos, até que haja nova revisão. O último Plano deveria ter sido revisto em 2017, mas até então não foi realizado e o Ministério Público Estadual (MPE) cobra o Município.
Se nessa época ainda havia certo planejamento na expansão da cidade, com a chegada de tantas pessoas houve, também, o surgimento de ocupações irregulares, não previstas pelo Poder Público, que acarretou em condições precárias de vida aos moradores dessas regiões, principalmente as mais distantes.
“Por muito tempo Cuiabá foi conhecida como ‘Cidade Verde’, título que se perdeu com o tempo e esse crescimento”, pontua o arquiteto.
Arquiteto Benedito Libânio é nascido em Cuiabá e foi superintendente do IPDU
Para Libânio, mesmo com todo o desenvolvimento da cidade, fundação de novos bairros e chegada de tantos novos imigrantes, o Centro Histórico continua sendo de grande importância para a Capital.
“Cuiabá tem um patrimônio religioso fantástico, que são as igrejas ainda conservadas, mas muito poucos exploradas, diferente do nordeste, de Minas Gerais, e de outros lugares onde isso é muito forte”, ressalta.
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Bairro CPA na época da inauguração
Para o urbanista, a cidade tem um patrimônio fantástico que ninguém imagina, que é a Rua de Cima, Rua de Baixo e Rua do Meio. “Esse desenho lusitano que acompanha todo o centro da cidade, os casarões, os largos. Quando entendermos isso como um patrimônio, valorizarmos isso e criarmos ações para afastar a criminalidade a realidade atual vai mudar”, alerta.
Libânio ressalta o poder de resiliência da cidade, que passou por várias crises e ciclos, mas se manteve constante.
“Cuiabá tem muitas potencialidade. Eu, como cuiabano, acredito muito no futuro. Precisamos somar esforços. Temos um território vasto e, desde que tenhamos uma melhor logística, iremos consolidar essa potência econômica. Mesmo em crise, nossa economia avança”, afirma.
Segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Cuiabá tem uma população estimada de 607.153 habitantes, distribuída em 350 bairros, conforme a União Cuiabana de Associações de Moradores de Bairros (Ucamb).
Fonte: Hipernotícias