As facções criminosas em todo o Brasil estão migrando dos crimes violentos, como assaltos, homicídios, sequestros e extorsões, para a prática dos chamados golpes digitais. É o que revela o promotor de Justiça Fabrício Miranda Mereb, criador da cartilha “Anatomia da Fraude Digital”, um manual voltado à identificação de fraudes e golpes virtuais. Segundo ele, as penas aplicadas a esse tipo de crime ainda são muito brandas. Com isso, os criminosos permanecem presos por pouco tempo e voltam a aplicar golpes assim que são soltos.
Em visita à sede do RD News, onde também participou do RdtvCast, o promotor destacou que, para as facções criminosas, aplicar golpes digitais apresenta menos riscos do que, por exemplo, invadir um banco. “Hoje, é muito complexo realizar um roubo a banco, como vimos recentemente em Brasnorte, que foi frustrado. Esse tipo de crime envolve grande quantidade de armamento, confronto com a polícia e, muitas vezes, resulta na morte do criminoso. Então, as organizações perceberam que era muito mais vantajoso migrar dos crimes violentos para os digitais”, afirmou.
“A facção faz um investimento muito pequeno, porque precisa basicamente de um smartphone, dados comprados na dark web – que podem ser adquiridos por cerca de R$ 2 mil – , uma VPN para se esconder e uma conta laranja. As organizações criminosas estão investindo massivamente nisso, porque o retorno é alto e o risco, baixo. O custo-benefício é enorme”, salientou.
O promotor ainda pontuou que o Brasil enfrenta uma verdadeira epidemia de fraudes digitais. Somente em 2024, foram registradas mais de 40 milhões de vítimas, o que torna as investigações ainda mais desafiadoras. “É como se você tentasse secar o oceano com um balde: É impossível”, lamentou.
Mesmo com a atuação da Polícia Civil no combate a esse tipo de crime e no desmantelamento de alguns esquemas, as penas continuam baixas. Em geral, quem é condenado cumpre pouco mais de um ano de prisão, é solto e volta a cometer golpes. Em alguns casos, sequer chega a ser preso. “Se uma pessoa comete um golpe digital milionário e é pega, dificilmente ficará muito tempo presa, porque a pena é muito baixa”, afirmou.
“Nós precisamos aumentar as penas e mudar o regime de cumprimento, para que esses criminosos passem a cumprir pena no regime fechado. Se as penas partissem de 8 a 12 anos, já teríamos um avanço significativo”, concluiu. (RD News)