
Maior produtor de grãos do país, o município de Sorriso sediou nesta sexta (12) o 1º Congresso Prefeitos do Agro, reunindo mais de 600 prefeitos, produtores e lideranças para discutir as travas e as oportunidades da economia do campo. O consenso nos painéis foi direto: Logística cara e baixa cobertura ferroviária comprimem margens e tiram competitividade; a resposta passa por ferrovias, duplicações e diversificação de mercados, com foco em valor agregado.
Logística: o calcanhar de aquiles
No painel técnico, o presidente da Aprosoja-MT, Lucas Costa Beber, sintetizou o gargalo: “Mato Grosso tem só 366 km de ferrovia em operação e paga o frete ferroviário mais caro do mundo. Isso limita a competitividade.” Ele lembrou que a malha brasileira “já teve 38 mil km nos anos 1960 e hoje gira em torno de 30 mil km”.
Da parte das rodovias, o diretor da Rota do Oeste, Roberto Madeireira, destacou a transformação da BR-163, que saiu da ameaça de devolução para ser tratada como a maior obra rodoviária do país. Já o ex-diretor do DNIT Luiz Antonio Pagot defendeu acelerar concessões e atrair indústria e tecnologia para encurtar distâncias entre lavoura e mercado.
Exportação: diversificar destinos e ganhar escala
Na abertura, o vice-presidente Geraldo Alckmin defendeu diversificação de mercados e abertura comercial. Anunciou missão à Índia para ampliar o leque de compradores e confirmou a instalação de um escritório da ApexBrasil em Cuiabá, em parceria com a Famato, “para aproximar produtores de compradores internacionais e dar velocidade à inteligência comercial”.
Como resposta conjuntural ao cenário externo, listou medidas mitigadoras para o setor exportador:
- R$ 40 bilhões em crédito com fundo garantidor;
- Prorrogação do drawback por um ano;
- Ampliação do Reintegra;
- Abertura de novos mercados, como México e Índia.
A mensagem, reforçada por representantes do agro, é reduzir a dependência de poucos destinos e aproveitar a demanda global por biocombustíveis e energia limpa — desde que a infraestrutura acompanhe.
Valor agregado e “Nova Indústria Brasil”
Alckmin vinculou a política industrial ao campo: “A primeira missão da Nova Indústria Brasil é a agroindústria: agregar valor ao agro para gerar emprego e renda.” A diretriz dialoga com a estratégia de industrializar grãos no próprio estado (etanol, proteínas, óleos, ingredientes), reduzindo a exportação de commodities in natura e retendo renda em Mato Grosso.
Safra recorde e pressão por infraestrutura
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, celebrou a safra histórica de 350 milhões de toneladas de grãos como evidência da força do campo — e como argumento para acelerar ferrovias, hidrovias e duplicações. No radar dos participantes, ganharam peso o avanço jurídico da Ferrogrão e a priorização de duplicações em corredores de escoamento.
Lideranças femininas e inclusão produtiva
A programação incluiu o Prefeitas do Agro – Mulheres, que reuniu gestoras e produtoras para discutir empreendedorismo, inovação e políticas locais que facilitem acesso a crédito, qualificação e cadeias de valor.
O fio condutor
Do palco técnico às conversas de corredor, três pontos costuraram o encontro:
- Infraestrutura como condição para competitividade (ferrovia, BR-163 e duplicações);
- Mercados externos mais diversos (Apex em Cuiabá + missões comerciais);
- Agroindustrialização para reter valor no estado.
Entre promessas e cobranças, o recado foi pragmático: reduzir custo logístico, abrir portas lá fora e transformar produção em produtos de maior valor — para que o campo continue crescendo com margens sustentáveis. (Primeira Página)