Durante uma pescaria de lazer em Carlinda (MT), as pescadoras Pauline Miranda e Neusa de Araújo passaram por uma experiência inusitada ao se depararem com uma espécie pouco conhecida nos rios de Mato Grosso: o Rhamphichthys, popularmente chamado de “itui-bico-de-tamanduá”.
O peixe, de aparência exótica e comportamento discreto, foi fisgado no Rio Teles Pires por Neusa, que é guia de pesca da Pauline, na manhã desse domingo (7), num local chamado de “Poço da Corvina”, em um dos pontos do Teles Pires, conhecido por abrigar diversas espécies.
“Na hora, achei que era um toco, um pedaço de pau que vinha na linha”, conta Pauline. “A gente ficou até com medo de pegar e levar choque, porque parecia uma tuvira gigante. E o bicho tinha uma cara estranha, parecia um tamanduá!”
Apesar de não ser considerado raro na região amazônica, o Rhamphichthys é um peixe de hábitos noturnos e costuma viver enterrado parcialmente em fundos arenosos ou lodosos dos rios, o que dificulta sua captura em pescarias comuns. Por isso, mesmo sendo relativamente comum em seu habitat natural, ele é raramente visto em pescarias esportivas — especialmente por quem não o conhece.
Segundo Pauline, a pescaria em Carlinda foi resultado de um sorteio: “Ganhei esse pacote num workshop de pesca em São Paulo. Aproveitei como férias mesmo, porque quando a gente tá organizando evento com o grupo de pesca, a gente mal consegue pescar”.
Pauline é natural de Coxim (MS), onde começou a pescar ainda criança, influenciada pelos avós e pelo pai. Há 12 anos mora em Sinop (MT), onde atua como supervisora de vendas na área de medicamentos veterinários.
Mesmo com a rotina corrida, ela se dedica à pesca esportiva e até fundou um grupo de pesca feminina em parceria com uma amiga. A turma do “pererecas de batom” já realizou diversas edições de eventos voltados exclusivamente para mulheres.
“Pesca esportiva, pra mim, é fundamental pra preservação dos rios e dos peixes. Eu pesco desde os 8 anos, mas hoje é mais do que hobby — é um estilo de vida.”

No dia da captura do peixe exótico, Pauline havia acabado de fisgar uma corvina. Na sequência, a Neusa percebeu movimentações em uma das varas armadas e, ao recolher a linha, veio a surpresa: “A gente achou que era outra corvina, mas vinha puxando estranho. Quando chegou perto, parecia até uma tuvira. Aí a Neusa falou: ‘Não, é um peixe, mas eu nunca vi isso’”.
Por precaução, decidiram recolher o peixe, já que ele havia engolido completamente o anzol. Mesmo tentando devolvê-lo à água, ele não resistiu.
“A gente tentou oxigenar pra soltar, mas não teve jeito. Levamos para mostrar e tentar identificar. Na pousada virou uma curiosidade geral — ninguém ali tinha visto um igual.”

O peixe chamou atenção por sua aparência incomum. O corpo alongado, a ausência de nadadeiras evidentes e o “bico” lembrando um tamanduá provocaram surpresa.
“Eu até falei na hora: como é que esse bicho engoliu aquela tuvira que a gente estava usando de isca? Ele não tinha dente, era só bico… devia sugar!”, relembra Pauline, ainda surpresa.
Apesar do susto e da dúvida sobre a espécie, a experiência reforçou a paixão de Pauline pela pesca esportiva: “Momentos como esse são o que tornam a pescaria tão especial. Você nunca sabe o que vai puxar na linha.” (Primeira Página)