Os períodos de seca que tendem a aumentar as temperaturas ameaçam seriamente a saúde dos habitantes de Cuiabá, de acordo com a professora de Geografia da UFMT, Giseli Dalla Nora. Conforme a docente, as ilhas de frescor são essenciais para mudar este cenário e minimizar os impactos das mudanças climáticas.
Sem atitudes imediatas, a professora, que é especialista em Planejamento Ambiental, Biogeografia e Educação Ambiental, alerta que em torno de 20 anos será “impossível” viver em Cuiabá.
Em entrevista ao MidiaNews, ela disse que as ilhas de frescor são uma solução que precisa ser implantada na Capital com urgência.
“Cuiabá tem um cenário que não é positivo para o futuro. Se nós não criarmos as ilhas de frescor, se nós não rearborizarmos a cidade, vamos ter problema com isso”, alertou.
As ilhas consistem em áreas verdes espaçadas, que melhoram a qualidade do ar e diminuem a poluição ao realizar o sequestro de carbono emitido em locais altamente urbanizados. Ele ocorre porque as árvores fazem fotossíntese, retirando o gás carbônico do ambiente e guardando em seus troncos. Quando desmatadas, elas liberam todo o gás que guardaram por anos.
“Não existe outra forma de você conter a mudança climática, a não ser plantar árvores e diminuir a emissão”, afirmou.
“Isso não é para amanhã, depois, ano que vem. Isso é para ontem. Tem que ser construído urgente, porque daqui a 20 anos nós não vamos ter condições de morar em Cuiabá se nós não tivermos esses espaços bem arborizados”, acrescentou.
Os problemas também ocorrem a curto prazo. A seca deste ano, diz ela, tem forte influência da crise climática que o Mundo está vivendo, e promete ser severa, com consequências para a população.
De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, a estiagem vai seguir até novembro em Mato Grosso. Então a população deve se preparar para meses desprovidos de chuva.
“O nosso período de estiagem promete ser bem duro novamente, justamente porque a gente está vivendo um período de mudanças climáticas que estão impactando a nossa quantidade de vapor d’água na atmosfera. Isso significa que, quanto menos vapor d’água nós tivermos, menos umidade. E isso impacta toda a biodiversidade, tanto as plantas, quanto os animais, quanto os seres humanos”, afirmou.
Por causa do Cerrado e do Pantanal, Mato Grosso vai ser mais impactado com a seca.
A estiagem vai causar o ressecamento da pele e das vias respiratórias, gerando tosses, asmas e outros problemas relacionados, conforme Giseli Dalla. Isso deve causar o aumento da procura por unidades de saúde.
Ela explica que, assim como uma pessoa adoece com o aumento da temperatura do corpo, o mundo também está adoecendo.
Ela alerta ainda que a arborização precisa ir além das árvores, pois a floresta não é só feita delas.
“Precisa de água, precisa de micro-organismos, de pequenos animais para que eles façam o ciclo daquela vegetação. Nós temos parques na cidade e alguns estão perdendo a sua qualidade ambiental justamente porque não têm essa biodiversidade que ajuda a mantê-los. Não tem esses pequenos animais que fazem essa diferença”, explica.
Queimadas
De acordo com Giseli, a previsão é que Mato Grosso tenha o impacto de queimadas maiores nos próximos anos.
Apesar de os três biomas presentes no Estado (Amazônia, Cerrado e Pantanal) serem afetados pela destruição, o Pantanal é o que mais sofre por conta de sua característica de camadas de materiais.
Enquanto no Cerrado e na Amazônia a queimada se concentra na superfície, no Pantanal o fogo é subterrâneo. Então mesmo que não se veja, ele está queimando por baixo.
Com a diminuição da lâmina d’água no Pantanal, ele fica seco e, em vez de as camadas de biodiversidade de material orgânico ficarem úmidas, elas secam e se transformam em pólvora. Isso faz com que pegue fogo rapidamente no bioma. E, sem ver, não há como controlar o fogo quando ele começa.
Após as queimadas, é possível que ele recupere a sua vegetação primária, que são as plantas que se desenvolvem com facilidade. No entanto, as vegetações secundárias e terciárias não se desenvolvem, pois precisam de tempo para crescerem e acabam sendo atingidas pelo fogo dos próximos anos.
Hábitos de consumo
O hábito do desmatamento desenfreado e a poluição também são questões urgentes para Mato Grosso, conforme a professora.
“Temos que começar a mudar os nossos hábitos de consumo, principalmente relacionados ao desmatamento. Ou seja, os produtos que nós consumimos desse desmatamento desenfreado que nós vivemos hoje e os hábitos de consumo que nós temos cotidianamente”, afirmou.
Ela considera ainda que os carros e as PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas) também são dois venenos para o aumento das temperaturas de Mato Grosso.
Os carros pela questão de liberação de CO2, e as PCHs porque elas seguram as águas que deveriam chegar ao Pantanal na época de cheia para serem concentradas e guardadas no planalto, evitando períodos de estiagem como os atuais.
Assista a entrevista na íntegra:
(Midianews)