Alvo de operação em MT se isolava na vida real e tinha rotina intensa nas redes

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Adolescente de 15 anos apontado como líder do grupo investigado, alvo da operação em Rondonópolis. (Foto: Matheus Maurício)

O adolescente de 15 anos de Rondonópolis, a 218 km de Cuiabá, internado em unidade socioeducativa nesta terça-feira (28) durante a operação nacional Mão de Ferro 2, já foi alvo de outras investigações por crimes semelhantes. Segundo a Polícia Civil, ele tinha um comportamento intenso nas redes sociais e se isolava na vida real.

Ele é apontado pela polícia como um dos líderes de uma organização criminosa formada por adolescentes e adultos em vários estados, que agia principalmente nas redes sociais.

De acordo com o delegado Gustavo Garcia, da Delegacia de Repressão a Crimes Informáticos (DRCI), o adolescente já tinha sido alvo de buscas no ano passado, após um alerta do Ministério da Justiça. Na primeira operação, a polícia apreendeu dois celulares.

O material foi analisado com autorização judicial e revelou a prática de crimes como perseguição, cyberbullying, apologia ao nazismo, venda de pornografia infantil, falsidade ideológica e organização criminosa.

Mesmo após a apreensão e os alertas à família, ele voltou a reincidir. Poucos meses depois, uma nova operação – chamada de “Discordância” – identificou que o garoto havia retomado as atividades criminosas, resultando na apreensão de mais um celular.

Crimes se repetem

A reincidência e a falta de supervisão familiar pesaram na decisão judicial de internar o adolescente nesta terça-feira (28) por pelo menos 45 dias. “Na primeira vez, os pais disseram não saber o que ele fazia. Agora, não podem mais alegar surpresa. Houve falha na supervisão”, disse o delegado responsável pela investigação.

O perfil do garoto também chamou atenção da polícia. Segundo Garcia, ele é descrito como alguém isolado no mundo real, vítima de bullying e sem amigos, mas que assume um papel de poder nas redes sociais, onde obriga outras pessoas a se mutilarem, especialmente meninas.

“É alguém que se sente poderoso na internet, obriga garotas a se cortarem, tem comportamento misógino e pratica bullying com outras vítimas. No mundo real, é isolado, mas na rede, exerce controle sobre outros jovens”, explicou Garcia.

Outro caso relacionado às investigações em Mato Grosso envolve uma adolescente de Sinop, que também foi alvo de mandado de busca e apreensão. Ela é apontada tanto como suspeita quanto como vítima, já que se automutilava e, nas redes sociais, ensinava outras jovens a fazer o mesmo.

O celular dela foi apreendido, e, segundo a Polícia Civil, o Ministério Público ainda vai decidir se ela será submetida a alguma medida socioeducativa ou internada provisoriamente.

Segundo a Polícia Civil, os jovens envolvidos estão sendo monitorados há meses. “É importante que eles saibam: estão sendo observados. Esse tipo de crime deixa rastros, e o ambiente virtual não é terra sem lei”, finalizou Garcia.

Venda de material de abuso e exploração sexual infantil

As investigações apontaram que entre os crimes virtuais cometidos pelo adolescente, estão a venda de imagens e vídeos de abuso e exploração sexual infantil, de vítimas do grupo.

Segundo o delegado da DRCI, os conteúdos eram vendidos a baixo custo e os valores depositados em uma conta, aberta com um documento falso em nome de uma mulher.

O delegado informou que o investigado realiza diversas vendas ao longo do dia, o que demonstra uma atividade contínua e bem estruturada. A partir dessas transações, ele consegue obter um lucro considerável, o que reforça o caráter comercial da prática ilícita.

Durante a apuração, foi constatado que o investigado utilizava diversos meios para operar o esquema. Ele mantinha vários endereços de e-mail, diversas contas em redes sociais e também múltiplas contas bancárias. Essa multiplicidade de canais pode indicar uma tentativa de dificultar o rastreamento das atividades e disfarçar a origem dos recursos financeiros obtidos com as vendas.

Segundo o delegado, a investigação agora avança para identificar os compradores desse material. A apuração seguirá também contra quem adquiriu o conteúdo ilegal, o que pode revelar uma rede mais ampla de envolvidos.

Operação Mão de Ferro 2

A Operação Mão de Ferro 2 foi coordenada pelo Ministério da Justiça e cumpriu 22 ordens judiciais em 12 estados, entre internações, prisões e buscas. Uma prisão em flagrante por armazenamento de pornografia infantil também foi registrada em São Paulo.

O delegado fez um alerta direto aos pais: “Adolescente e criança não podem ter privacidade irrestrita. Eles precisam ser monitorados constantemente. Só porque estão dentro do quarto, atrás de um computador ou com o celular na mão, não quer dizer que estão seguros. Eles podem estar praticando ou sendo vítimas de um crime”, disse.

“Monitore, acompanhe, converse com seus filhos, oriente sobre o uso responsável da internet. E, se notar qualquer comportamento suspeito, procure a delegacia mais próxima. Essa operação é também pelas vítimas. E a gente sabe que ainda tem muitos outros grupos atuando. O trabalho continua”, concluiu. (Primeira Página)