Após 12 anos de Pontificado, o Papa Francisco morreu nessa segunda-feira (21), deixando a Igreja Católica no período de sede vacante – que significa “trono vazio”. O Santo Padre foi sepultado neste sábado (25), na Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma, mas os burburinhos para a eleição do próximo pontífice já aceleram antes mesmo do conclave começar.
O conclave, como é chamado o protocolo de votações para eleição do novo Papa, ocorre após 15 dias da morte do Santo Padre, ou assim que todos os cardeais chegam a Roma. Nesta edição, 135 estão aptos para participarem, sendo oito cardeais brasileiros – confira quais.
A escolha do novo papa segue um rito que envolve votos em cédulas de papel, juramento de segredo e emissão de fumaça preta ou branca. Sem um papa, as decisões e necessidades inadiáveis do Vaticano ficam a cargo do colégio de cardeais. Durante esse período, os cardeais não podem revogar decisões ou leis promulgadas por outros papas.
Como funciona
Para o início do conclave, há a profissão de ladainhas, invocação do Espírito Santo e o juramento de sigilo e obediência, sob pena de excomunhão.
Os cardeais são submetidos a até quatro votações por dia – duas de manhã e duas à tarde -, através de cédulas escritas à mão, dizendo: “Invoco como testemunha Cristo Senhor, o qual me há de julgar, que o meu voto é dado àquele que, segundo Deus, julgo deve ser eleito”. Um cardeal é eleito papa apenas se obtiver dois terços dos votos.
A divulgação dos resultados é feita através das fumaças. Mesmo que haja duas votações por período, há apenas duas fumaças durante o dia. Caso saia fumaça preta, não houve consenso e todas as cédulas foram queimadas, assim como as anotações dos cardeais. Se a fumaça sair branca: Habemus Papam!
Vatican News
Selos pontíficios nos aposentos do papa: o Vaticano sela as acomodações papais para preservar o que o pontífice deixou ali, sejam documentos ou itens pessoais, pelo período de luto
Particularidades da votação
Todo o procedimento é feito de forma estritamente sigilosa. Conforme a Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis, “é proibido aos cardeais eleitores revelar, a qualquer outra pessoa, notícias que, directa ou indiretamente, digam respeito às votações, assim como aquilo que foi tratado ou decidido acerca da eleição do pontífice nas reuniões dos cardeais, quer antes quer durante o tempo da eleição”. No entanto, a discussão sobre os nomes mais cotados não é vedada aos participantes.
Mestre e Doutor em Direito Canônico, o padre Evandro Stefanello explicou ao RD News o que a constituição do conclave prevê para o processo de votação, que não tem um prazo pré-determinado e pode se arrastar por um longo período – o mais longo conclave da história durou quase três anos, quando da escolha do Papa Gregório X, em setembro de 1271. O sacerdote é presidente do Tribunal Eclesiástico Interdiocesano de Cuiabá e vigário na Paróquia da Santa Cruz, em Barra do Bugres (a 165 km de Cuiabá).
“Se depois de três dias de escrutínios [votações] o resultado for infrutífero, ou seja, sem alcançar dois terços dos votos, o que se chama de maioria qualificada, os cardeais fazem uma pausa de um dia para oração e livre conversa. No dia seguinte, eles votam novamente”, detalhou.
Antes de renunciar ao seu pontificado, o Papa Bento XVI alterou alguns artigos da constituição, incluindo o que fazer caso a decisão se delongar demais.
“O Papa Bento XVI coloca que, após quatro ciclos de votações infrutíferos, ou seja, três dias seguidos e uma pausa no quarto dia, o próximo escrutínio deve ser feito com apenas os dois nomes que tiveram maior número de votos na última vez, mantendo as normas das votações”, explicou.
Stefanello enfatiza que o conclave não se baseia apenas em uma escolha estratégica do novo papa, mas é um momento em que os cardeais rezam, colocam reflexões sobre os problemas da igreja com o propósito de se conhecerem.
“De início, todos rezam as orações indicadas para o momento. Nos primeiros dias, se fará toda uma apresentação das questões da igreja, da própria cidade-estado do Vaticano. Então, nesse sentido, vai se começar em si as eleições”, esclarece.
Reprodução/RD
O padre Evandro Stefanello, mestre e doutor em Direito Canônico
Sucessor de Pedro
Dada a natureza do pontificado de Francisco – de misericórdia, acolhimento e proximidade -, muitos analistas avaliam que os cardeais possam optar por seguir o mesmo posicionamento. No entanto, alguns nomes mais conservadores, como o cardeal Robert Sarah, da Guiné, e o cardeal Peter Erdo, da Hungria, também estão nas listas de mais prováveis a serem escolhidos para o cargo.
Padre Evandro conviveu bastante em Roma, sobretudo no Vaticano, durante os seus estudos de mestrado e doutorado, mas também como administrador da causa de beatificação do padre Nazareno Lanciotti. Durante sua estadia, ele aprendeu que os cotados quase nunca são os eleitos.
“Em Roma, há uma máxima: ‘aqueles que entram no conclave como papa, saem cardeais’. Nós vemos isso pela própria eleição do Papa Francisco, já que ninguém imaginava que ele seria eleito. Essa máxima é muito válida, pois é difícil dizermos nomes possíveis. Eu acho que talvez nenhum desses nomes que estão sendo cotados possam ser o próximo Romano Pontífice”, afirmou.
Diante das especulações, os fiéis buscam viver o luto de um papa marcante e muito amado por toda a Igreja e por muitos fora dela. Até o início do conclave, toda a Igreja Católica enlutada reza pelo pontífice e seu legado de misericórdia.
“O Papa Francisco conseguiu trazer para perto das pessoas o rosto da misericórdia. A acolhida como é a síntese do magistério do Papa Francisco, porque ele quis que as estruturas da Igreja estivessem próximas de todos, que todos pudessem ter acesso. Ele sempre desejou que as diversas realidades, principalmente as de sofrimento, pudessem ser integradas a Igreja, para que todos caminhássemos juntos”, concluiu padre Evandro. Fonte: RD News