Um ex-funcionário da Imagem Eventos, que atuava como coordenador fotográfico, revelou ao MidiaNews os bastidores do colapso da empresa, que cancelou dezenas de formaturas e deixou alunos, fornecedores e trabalhadores sem respostas.
Em entrevista exclusiva, o ex-funcionário descreveu o clima de desconfiança antes do fechamento, os salários atrasados e o choque ao descobrir que havia perdido o emprego da noite para o dia.
O profissional, que preferiu não revelar seu nome, relatou que trabalhou até tarde no “Jantar dos Pais” de uma turma de Medicina na quinta-feira (30) e, na manhã seguinte, foi surpreendido por ligações informando que a empresa havia encerrado suas atividades. “Acordei com o pessoal me ligando, dizendo que a Imagem não existia mais. Aí li o documento que um suposto advogado me encaminhou, dizendo que iriam até arcar com o salário após as 17h. Até hoje, nunca vi a cor desse salário”, afirmou.
Além dele, outros funcionários também não receberam. “Alguns colegas receberam, mas eu não vi nada. A gente não tem contato com os proprietários, só com esse advogado que demora para responder e só fala que estamos na promessa de receber nossos direitos. Mas até agora, nem o básico, que é o salário, foi pago.”
Segundo ele, a empresa já demonstrava sinais de instabilidade financeira. “A gente já desconfiava que isso poderia acontecer, devido às dificuldades de pagamento que a empresa sofria com as turmas e com a execução dos eventos. Mas nunca imaginamos que eles simplesmente sumiriam sem dar satisfação a ninguém.”
Os fornecedores frequentemente cobravam os trabalhadores, pois a empresa atrasava os repasses. “A maioria dos formandos tinha os pagamentos em dia. Mas, nos últimos dias, com as entregas das turmas de Medicina, como os valores eram muito altos, vimos a dificuldade deles para pagar fornecedores. Os próprios fornecedores vinham cobrar a gente.”
Os problemas não afetavam apenas terceiros: os funcionários estavam com salários atrasados desde dezembro. “Eu não recebia meu salário desde o ano passado. Além disso, a gente fazia extras nos eventos, trabalhava em finais de semana, mas também não via esse dinheiro.”
Ele revelou que, diante da situação, pediu demissão em dezembro devido ao impacto da crise financeira sobre seu trabalho, já que era responsável pela contratação de fotógrafos e era cobrado diretamente por eles. No entanto, foi convencido a permanecer até o fim de janeiro.
“Eu falei que já estava afetando meu psicológico. Decidi pedir conta em dezembro. A dona da empresa (Elisa) pediu para eu esperar até as duas formaturas de Medicina do início do ano. Disse que depois me desligaria e eu receberia meus direitos. Confiei. Trabalhei todos os fins de semana de dezembro e janeiro, sem ver a cor desse dinheiro.”
Ele afirma que foi enganado. “Ela me levou no banho-maria até onde deu. Eu até assinei minha carta de desligamento e o aviso prévio já estava correndo. Mas ela já sabia que ia decretar falência e sumir.”
O ex-funcionário descreveu os momentos finais antes do colapso da empresa. Segundo ele, Elisa Severino, uma das proprietárias, pediu que todos levassem seus pertences para casa, alegando que iriam trocar o padrão de energia da sede da empresa.
“Achei normal. A maioria foi embora, mas eu e uma colega decidimos ficar até que a energia realmente caísse. Quando a Elisa chegou do almoço, conversou com a gente como se nada estivesse acontecendo. Mas, quando foram desligar a energia, percebemos que não tinha nenhum carro da concessionária na frente. Eles mesmos desligaram.”
Na manhã seguinte, a notícia veio como um choque: fechaduras trocadas e uma empresa que, até o dia anterior, ainda operava, agora não existia mais.
Ele e os colegas tentaram entrar em contato com os donos, sem sucesso. “O WhatsApp do Márcio (um dos sócios) não existe mais. Ele deve ter trocado de número. O da Elisa ainda recebe mensagens, mas não tem foto, nada. E ela não responde.”
Com cerca de 10 funcionários diretos, a Imagem Eventos não deixou apenas os formandos na mão, mas também seus próprios colaboradores. Muitos ficaram sem salários e sem saber como pagar suas contas.
“Eu moro sozinho, mas tenho um colega que tem filho pequeno. Ele e a esposa trabalhavam lá e a renda total da família vinha da empresa. Eles não receberam nem o salário.”
O ex-funcionário acredita que os sócios fugiram para outros estados. “Acho que ela está no Paraná, onde moram seus familiares. Já ele, no Nordeste. No dia que iam desligar a energia, o irmão dele apareceu na empresa para pegar arquivos, dizendo que ia mandar produzir os álbuns dos formandos. Eu entreguei os arquivos, mas desconfiei. Depois disso, ele sumiu.”
Agora, ele e outros colegas tentam organizar uma ação coletiva para garantir seus direitos. “Retornei para Cuiabá hoje e já estamos nos reunindo. Vamos à delegacia registrar boletim de ocorrência e buscar nossos direitos. Também pensamos em fazer vídeos para divulgar nossa situação.”
Enquanto isso, centenas de formandos continuam sem respostas sobre os eventos que nunca aconteceram e o dinheiro que pode jamais ser recuperado. Fonte: Midianews