A morte de uma pessoa em situação de rua dentro de uma viatura da Polícia Militar nesta semana expôs um drama social na região central de Cuiabá, especialmente no entorno da Praça Alencastro. O homem, de 42 anos, foi encontrado morto dois dias depois de entrar no porta-malas do veículo estacionado no local.
De acordo com dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Assistência Social, Direitos Humanos e da Pessoa com Deficiência, o Centro de Referência Especializado no Atendimento à População em Situação de Rua (Centro Pop) atende entre 400 e 500 pessoas mensalmente no local. O prédio fica próximo à Estação Alencastro, ocasionando a passagem ou ida dessas pessoas em situação de rua para o local.
A região, cercada por estabelecimentos comerciais e onde está localizada a Prefeitura, é bastante movimentada, mas as pessoas não se sentem seguras ao passar por ali, o que leva a um esvaziamento.
A lojista Dirceli de Oliveira, proprietária de uma ótica na região há cerca de 20 anos, teme pela sua segurança e de seu negócio, já que, segundo relata, a presença de pessoas em situação de rua é um risco para a clientela.
“Deu 18 horas a gente tem que sair. Se tiver cliente, eu falo com ele, explico a situação, porque é melhor sair quando o fluxo de pessoas é maior. Acho perigoso sair depois, porque já fui assaltada aqui, não por eles, mas mesmo assim…”, desabafou a comerciante. Ela conta que sua funcionária já viu uma das pessoas em situação de rua tentar roubar o celular de um entregador, o que aumentou o seu alerta.
Outro problema exposto por Dirceli é a sujeira e lixo deixados. Diversas vezes a comerciante chegou na loja e se deparou com o odor vindo das necessidades básicas dessas pessoas na parede externa da loja, tendo que limpar para conseguir atender aos clientes.
O lixo deixado de marmitas e cobertores é outra situação desconfortável, principalmente às segundas-feiras, já que a limpeza da praça não é feita aos sábados e domingos. “Aqui na frente da Prefeitura fica muito feio no final de semana. Eles dormem todos aqui. E na segunda-feira está lotado de lixo. A gente chega e vê a rua toda suja, é bem constrangedor o que a gente está passando”.
Os profissionais responsáveis pela limpeza da praça também lidam com dificuldades em recolher tanto lixo deixado em frente da Prefeitura e ao redor da praça, principalmente embalagens de marmitas. Além disso, há uma grande quantidade de cobertores que os moradores de rua recebem no Centro Pop, utilizam por poucos dias e deixam de lado, a fim de obter novos.
Outro incômodo para os comerciantes é a quantidade de brigas.
O vendedor de um carrinho de alimentos e bebidas, que preferiu não se identificar, também comentou sobre o caso em que um morador de rua, que já havia brigado com outro no dia, pediu-lhe um produto de graça. Ele diz que se negou a dar, já que é funcionário, mas teve que ouvir xingamentos.
“Eles não costumam mexer muito comigo. Mas se vierem e eu brigar, perco o meu ponto, meu patrão tira, então eu tenho que ficar quieto na minha”, explicou.
Já Vagner Luz, funcionário de uma distribuidora ao redor da praça há mais de um ano, nunca se sentiu particularmente ameaçado ou com medo de assaltos. Mas ele tem uma queixa.
“O problema é a ‘pedição’. Eles pedem muito na rua. Eu vejo que o pessoal fica meio assustado com isso, e acaba que eles atrapalham os clientes de chegar aqui. Antigamente eu trabalhava em um espetinho atrás da praça, e as pessoas não compravam por causa deles. Porque era a pessoa sentar, e eles chegavam para pedir. [Por causa disso] essa praça não tem como sentar, vir com a família, trazer uma criança”, destacou.
Assistência Social
A comerciante Dirceli acredita que estas pessoas precisam de assistência social, e não apenas de fornecimento de comida. “Não é só a comida que vai resolver o problema deles. Se hoje de manhã recebem comida, na hora do almoço eles estão com fome de novo. Eles precisam ter condições não só de alimentação e moradia, mas de assistência social, médica”, comentou.
Segundo a comerciante, o prefeito eleito Abílio Brunini (PL) se reuniu com os lojistas da região duas vezes durante a campanha no ano passado, prometendo resolver a situação. A sua proposta gerou controvérsia, por oferecer passagens para os moradores de rua se locomoverem para outras regiões. Nesta semana, o prefeito se reuniu com policiais militares que atuam na região central para tentar resolver o problema.
A Secretaria Municipal de Assistência Social, Direitos Humanos e da Pessoa com Deficiência afirmou que há quatro locais de acolhimento institucional para pessoas em situação de rua na Capital, que oferecem 270 vagas. O número representa, no entanto, apenas 18,78% das 1.437 pessoas em situação de rua cadastradas.
A Pasta ainda destacou a distribuição de 450 marmitas por dia nos principais pontos de concentração do público, e realização de projetos para essa população, como o “Quero te Conhecer Pop Rua”, que consiste na “abordagem social da população em situação de rua para sensibilização e reconhecimento da importância do acolhimento em uma das quatro unidades do município ou até mesmo, contribuir para que essas pessoas retornem às cidades de origem; e Imigrantes para sensibilização desta população que utiliza das ruas na capital”.
Fonte: Midianews