Mapeamento aponta atuação de quatro facções em MT

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Mato Grosso é um dos estados que apresentaram crescimento da taxa de mortes violentas intencionais (MVI) na Amazônia Legal, entre 2022 e 2023. Com taxa de 31,7 assassinatos por grupo de 100 mil habitantes, houve um crescimento de 8,1 MVI a cada 100 mil habitantes no período.

É o que revela a 3ª edição do “Cartografias da Violência na Amazônia”, divulgada na quarta-feira (11) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), em parceria com o Instituto Mãe Crioula (IMC).

A outra unidade é o Amapá, que registrou a maior taxa MVI do país em 2023, chegando a 69,9 mortes para cada grupo de 100 mil pessoas, um crescimento de 39,8% em relação ao ano anterior.

Em números absolutos, aumento dos homicídios dolosos no Estado (quando há intenção de matar) chegou a 28,5%, o que corresponde a 3.090 vítimas nos últimos três anos.

Foram 879 vítimas, em 2021; 1.062 mortes no ano seguinte; e 1.159 vítimas no ano passado.

No Estado, conforme o mapeamento, entre os fatores determinantes para esse aumento na violência estão guerra entre facções criminosas, disputa pelo controle do tráfico, atuação de milícias ligadas ao agronegócio e o garimpo ilegal.

São ao menos quatro grupos criminosos com atuação no território mato-grossense, com destaque para o Comando Vermelho (CV).

Os outros três grupos são o Primeiro Comando da Capital (PCC), Tropa Castelar, com foco em Sorriso (420 km ao Norte de Cuiabá), e o Bonde dos 40, com origem no Maranhão, mas com atuação na região do Araguaia.

Conforme o FBSP, o crime organizado é uma preocupação crescente em Mato Grosso.

Tanto que “em 2024, adquiriu características de crise política, tendo como pontos de destaque a troca de comando da PM”.

“O Governo do Estado tem sido muito pressionado no debate público e por uma percepção do crescimento da sensação de insegurança em diversas regiões do Estado”, diz o documento.

Diante do cenário, no final de novembro, o Governo lançou um pacote de medidas chamado “Programa Tolerância Zero ao Crime Organizado”, com destaque para a recriação da Secretaria de Justiça (Sejus-MT), com responsabilidade de administrar os presídios e o sistema socioeducativo, que, anteriormente, havia sido extinta, com suas funções tendo sido assumidas pela Secretaria de Segurança Pública (Sesp).

“Contudo, vale lembrar que, em 2022, uma operação da Polícia Civil e do Ministério Público do Estado cumpriu mandados contra mais de 60 policiais militares suspeitos integrar um grupo de extermínio e, simulando confronto, matar 24 pessoas na região”, destaca.

Porém, vale lembrar que o governador Mauro Mendes (União) tem reiterado o seu posicionamento contrário à instalação de câmeras nas fardas dos policiais militares.

Para ele, há uma inversão de valores no país.

“Colocar câmera nas fardas dos nossos policiais é tratar como se eles fossem os bandidos e precisam ser vigiados, quando são eles que dão segurança, quando são eles que estão enfrentando os bandidos. A câmera pode até inibir alguma coisa, mas hoje, no Brasil, menos de 0,0 qualquer coisa por cento dos crimes é cometida por policiais”, disse o chefe do Palácio Paiaguás, em entrevista à imprensa, nesta semana.

Em relação aos municípios, dois deles chamam a atenção por estarem localizados na faixa Norte do Estado, justamente o local onde, segundo o Fórum, o conflito entre CV, Castelar e PCC se intensificou.

São os casos de Nova Santa Helena, com a maior taxa trienal de MVI (102,3 vítimas a cada 100 mil habitantes), e Aripuanã, com a quarta maior taxa (91,4/100 mil).

Nesta última cidade, por exemplo, José Esponton, de 46 anos, foi morto e outras duas mulheres ficam feridas por tiros disparados por uma dupla de motociclistas.

Após o crime, ocorrido em setembro passado, em um posto de combustível na cidade, os suspeitos fugiram na moto.

No local, policiais encontraram cinco cápsulas e quatro projéteis calibre .40. José Esponton era garimpeiro na região.

“Dos 141 municípios do Estado, 63 apresentaram taxa de mortes violentas superior à da região Amazônica, isto é, quase 45% do Estado”, diz.

“É possível ainda notar que há sobreposições entre essa dinâmica do crime organizado na modalidade narcotráfico com outros tipos de crimes, com destaque para o garimpo ilegal e desmatamento ilegal”, completa.

A Amazônia Legal corresponde a 59% do território brasileiro e engloba a área de nove estados: Mato Grosso, Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e parte do Maranhão.

Em toda a região, o relatório traz um cenário preocupante de conflitos em torno do controle, uso ou posse da terra que têm produzido homicídios e outras dinâmicas criminosas, bem como danos irreparáveis à biodiversidade amazônica, causando danos à manutenção da floresta e à sobrevivência de povos indígenas, quilombolas e comunidades ribeirinhas.

Fonte: Diário de Cuiabá