Botelho e Kalil perderam para si mesmos, avalia cientista político

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Ao analisar o cenário eleitoral após a vitória de Flávia Moreti (PL), em Várzea Grande, e o segundo turno em Cuiabá travado entre Abilio Brunini (PL) e Lúdio Cabral (PT), o professor e cientista político, Vinicius de Carvalho, assegurou que todos têm seus méritos diante do resultado das urnas, mas creditou o feito majoritariamente ao desastre promovido pelos favoritos nas respectivas cidades.

Para o analistas, o atual prefeito de VG, Kalil Baracat (MDB), e o deputado estadual e presidente da Assembleia Eduardo Botelho (União Brasil), que lideravam as pesquisas eleitorais, falharam e foram pouco convincentes. O analista vai mais longe e diz que houve “soberba”. Os dois candidatos eram apoiados pelo governador Mauro Mendes.

Os dois candidatos, mesmo com a máquina pública nas mãos, viram os castelos se derreterem com o avançar do fim da apuração dos votos.

Em Cuiabá,  Vinícius de Carvalho atribui a derrota de Botelho, que mirava o Palácio Alencastro desde 2023, e acabou amargando o terceiro lugar na disputa, à “soberba”, a erros de estratégias e a influência negativa de pesquisas, que acabaram “mascarando” o possível resultado.

“Muitas pesquisas forçaram a barra mesmo, houve uma forçação de barra, que essas empresas têm que explicar, que ali não é erro metodológico”.

Deputado e presidente da ALMT, Eduardo Botelho, ao lado do candidato a vice Marcelo Sandrin: derrotados no primeiro turno das eleições em Cuiabá Foto: Reprodução/RD

Ao final da apuração, o presidente da AL obteve 88.977 votos, referente a 27,77% do eleitorado, e perdeu a vaga no segundo turno para o deputado Lúdio Cabral (PT), que abocanhou o segundo lugar. A diferença entre Lúdio e Botelho foi de apenas 1,7 mil votos. O petista conquistou 28,31% do eleitorado, com 90.719 votos.

“A gente tem que relativizar as análises, porque a diferença para o Lúdio e Botelho foi de 0,5% dos votos válidos [na briga pela segunda vaga]. Foi pouquinho, acho que Lúdio não tenha nacionalizado tanto. O Abilio, sim, mas pesou muito a questão local, o que é que dá para dizer, todo mundo tem mérito, mas assim, o Botelho perdeu essa eleição. Não foi o Abilio e Lúdio que ganharam por enquanto. Mas foi o Botelho que perdeu”, emendou o analista.

Salto alto

Na avaliação de Vinícius de Carvalho, entre as falhas cometidas pelo candidato Botelho está o fato de não ter se protegido e ficado exposto aos ataques nos debates. Para ele, o representante do União Brasil apresentou justificativas pouco convincentes tanto para o eleitor, como para os oponentes.

Abilio, Lúdio e o empresário Domingos Kennedy, candidato pelo MDB, exploraram durante esses debates pautas de anti-corrupção e teceram críticas à “velha política”, encurralando Botelho contra as cordas.

“É que o Botelho realmente ficou com um salto alto, acabou ele tendo muitas vulnerabilidades, ele foi atacado, foi muito atacado pelos dois, depois de estar na liderança, especialmente pelo Abilio, nessa questão da denúncia de corrupção, das emendas da Assembleia Legislativa, isso acabou pegando bastante, e ocorreu uma série de erros, de coordenação”, ponderou.

Voto de protesto à velha política

Já em Várzea Grande, a candidata do PL Flávia Moretti somou 50,54%, conquistando 68.760 votos, enquanto seu adversário, chegou a 44,84%, perfazendo 61.005 votos: “Lá foi o Kalil que perdeu. Flávia tem seus méritos, claro, ninguém joga sozinho, ninguém ganha nem perde sozinho, ninguém joga um jogo sozinho”.

Para o cientista político, o varzea-grandense ao eleger Flávia votou contra a política tradicional que perdura no município à décadas.

Assessoria

 Kalil Baracat candidato a prefeito VG com governador Mauro Mendes

Prefeito de VG, Kalil Baracat (MDB), ladeado do senador Jayme Campos e o governador Mauro Mendes, ambos do União: voto contra o tradicionalismo

A Família Campos possui reduto eleitoral em Várzea Grande, e atualmente, as duas figuras políticas ativas, são o senador Jayme Campos e deputado estadual Júlio Campos, ambos do União Brasil. Eles detinham o controle da cidade e escolhiam os sucessores, emplacando esposa, como a ex-prefeita Lucimar Campos e o próprio aliado, Kalil – eles saem menores do que entraram nesta disputa, pois também também tiveram peso pela escolha do União por Botelho na Capital – enquadrando o governador Mauro Mendes.

Em sua análise, Vinícius pontua que somado à descrença da população com a chamada “velha política”, outro ponto que pesou na eleição da prefeitura de Várzea Grande foi a influência do bolsonarismo, empregado no país pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, também PL.

Segundo ele, tanto em Cuiabá quanto na cidade vizinha isso pesou. O analista cita, inclusive, Rondonópolis (a 216 km de Cuiabá) onde o mesmo fenômeno foi registrado com a eleição de outro bolsonarista, Cláudio Ferreira (PL).

“O voto, especialmente no Abilio, foi um voto de rejeição às máquinas políticas tradicionais. O voto no Abilio, voto na Flávia Moretti e no Cláudio Ferreira, foi um voto de rejeição às máquinas tradicionais que o Botelho e a Família Campos representavam”.

Caroline De Vita

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MInistro da Agricutlura Carlos Fávaro (PSD) discursa em apoio ao candidato Lúdio Cabral (PT) e a vice Rafaela Fávaro, também PSD: no 2º turno

Influência de Fávaro em Cuiabá

Ao citar um dos pontos positivos da campanha de Lúdio Cabral, na Capital, o analista argumentou que a presença do Ministro Carlos Fávaro, na reta final, em apoio ao projeto, ao petista, e a sua filha, Rafaela Fávaro (PSD), que disputa como vice, rendeu frutos – ida ao 2º turno e evitou um vexame pessoal. Fávaro é senador licenciado e pode ir à reeleição ou disputar o governo do estado em 2026.

“A vinda do Carlos Fávaro para cá nesse final de campanha foi fundamental a favor do Lúdio. O Fávaro com a filha dele, se o Lúdio não fosse nem para o segundo turno, ia ficar muito ruim para o Fávaro. Porque ele é pré-candidato a senador e no mínimo a governador. Então, o Lúdio perder essa eleição, na capital do Estado do Agro, na cidade onde o Bolsonaro ganhou, o Abilio já vem de uma revanche. Agora, no início do segundo turno, o Lúdio ficaria muito, muito ruim. O Fávaro percebeu isso e mobilizou, em favor do Lúdio. E o Abilio teve essa onda em favor dele”, expôs.

Por fim, sustentou que o Lúdio, acusado de “esconder” às cores e imagem do PT durante a campanha, neste momento, deve ser considerado de centro-esquerda, diante do movimento e alianças que contruiu para a viabilização do projeto. Isso inclui diretamente sua composição com a filha de Fávaro, um homem que é ligado ao agronegócio.

“Primeiro, eu não classifico o Lúdio como esquerda. Lúdio é centro-esquerda, nessa campanha ele se movimentou muito para o centro, até ficou notório. Vamos esquematizar aqui, primeiro na aliança com a Rafaela Fávaro, filha do Carlos Fávaro, ele é de centro-direita, representativo do agronegócio, PSD, muito ligado ao clã Maggi. Então, o fato de se aliar a alguém do agronegócio [é um forte sinal]”, completou.

Fonte: RD News