Institutos de pesquisa de MT reconhecem erro e apontam necessidade de mudar metodologia para próximas eleições

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Contrariando tudo o que vinha sendo dito até então pelos institutos de pesquisa, os candidatos que apareciam como líderes em Cuiabá, Várzea Grande, Rondonópolis e Sorriso foram derrotados de forma esmagadora.

O resultado evidenciou a sobrevida do “bolsonarismo” em Mato Grosso, e também levantou questionamentos sobre a confiabilidade dos números divulgados pelos institutos de pesquisa.

Em Cuiabá, o deputado federal Abilio Brunini (PL) e o deputado estadual Lúdio Cabral (PT) passaram uma “rasteira” no presidente da Assembleia Legislativa, Eduardo Botelho (União), que era apontado por todas as pesquisas de intenção de votos como o primeiro colocado.

Nem mesmo a Quaest, contratada pela Rede Globo e todas as suas afiliadas, conseguiu acertar o resultado da eleição em Cuiabá. No último levantamento, divulgado na véspera da eleição, apontou empate entre Abilio e Botelho.

Apenas um instituto, o Atlas Intel, trouxe um cenário diferente. Faltando poucos dias para o primeiro turno, divulgaram seu levantamento, feito por questionário eletrônico no Instagram, com números muito parecidos àqueles que foram vistos após a apuração das urnas.

Em editorial publicado na segunda (07), o Grupo Gazeta de Comunicação, que controla o instituto Gazeta Dados, reconheceu o erro, mas destacou que não foi o único a errar. Nem mesmo as pesquisas internas, contratadas pelos marqueteiros das campanhas para planejar as estratégias perceberam o descolamento dos números com a realidade.

“Praticamente todas as siglas envolvidas na disputa ao Palácio Alencastro, por exemplo, mostravam uma ascensão de Lúdio Cabral (PT), mas Eduardo Botelho (União) como líder ou, no mínimo, classificado para o segundo turno”, disse o texto, veiculado na capa do diário.

Com a fama de nunca ter errado o resultado de uma pesquisa, especialmente a da véspera da eleição, o Gazeta Dados destacou a necessidade de aperfeiçoar o trabalho de amostragem.

“A metodologia utilizada pelos institutos de pesquisas precisa se atualizar – e decifrar as peculiaridades de uma sociedade atenta, hiperconectada e sem receio de mudar”, conclui o texto.

O instituto Percent Brasil, que atua em Mato Grosso e em Goiás, destacou alguns pontos como a insegurança política e econômica, que podem fazer o eleitor mudar o voto no último segundo, quando já está diante da urna. Outra possibilidade foi um “receio” do entrevistado em revelar suas preferências políticas.

Conforme o instituto, a pesquisa realizada em Goiânia também não conseguiu detectar o crescimento do candidato de lá, Fred Rodrigues (PL), que aparecia em sexto lugar e acabou indo para o segundo turno em primeiro lugar.

Conforme Ronye Steffan, diretor da Percent Brasil, as pesquisas feitas pela empresa em Cuiabá ouviram sempre 1.200 eleitores. Mas esse número pode ter sido insuficiente.

“Para as grandes cidades vamos rever nossa amostragem, vamos passar a trabalhar com aproximadamente 5 mil entrevistas, vimos que quanto mais pessoas entrevistadas, mais se aproxima da realidade”, afirmou.

Gonçalo de Barros, ex-secretário de Saúde de Várzea Grande e consultor do instituto MT Dados, entende que as pesquisas não conseguiram captar a influência do embate ideológico entre a direita e a esquerda. Também passou despercebido pelos levantamentos o que ele chamou de “ondas ideológicas”, que teriam mudado o resultado das eleições nos últimos momentos da campanha.

“A pesquisa quantitativa Survey, feita face a face nas casas dos entrevistados, não conseguiu identificar a mudança brusca de última hora. A batalha ideológica se prolifera nas ruas, fazendo com que o posicionamento de cada cidadão, certo ou errado mude em curto espaço de tempo”, disse ao RepórterMT.

Ele também destacou a abstenção de quase 25% do eleitorado, que ele atribui à “guerra ideológica”. Além disso, defendeu uma atualização nos métodos de pesquisa.

“Entendemos que foi um erro, sim, dos institutos de pesquisas. Precisamos de modernização, principalmente no se refere ao alcance dos eleitores de classe média alta, que por motivo de insegurança, os entrevistadores são impedidos de abordá-los”, pontuou.

Por fim, Gonçalo apontou a possibilidade de uma metodologia híbrida, com entrevistas presenciais e por meio das mídias sociais, para obter um resultado mais fidedigno e que leve em consideração a influência dos avanços tecnológicos.

Gonçalo, contudo, reconheceu que não haverá tempo de implementar essa novidade para o segundo turno desta eleição, em razão do “curto tempo”. A campanha de segundo turno dura 15 dias.

“Mas no caso do segundo turno, a disputa direta entre esquerda e direita será menos complicada, porque as ondas ideológicas já são conhecidas, e com a ponderação correta voltaremos a normalidade”, concluiu.

Fonte: Repórter MT