Apaixonado por história, jornalista mantém perfil de imagens raras de Cuiabá

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Imagens antigas dos lugares em que diariamente transitamos hoje em dia nos roubam a atenção e nos fazem parar para pensar. Às vezes por curiosidade, às vezes por trazer uma memória, o fato é que atiça a curiosidade.

Apaixonado pela cultura e história da Capital, o jornalista Marcy Monteiro criou em 2018 uma página em uma rede social intitulada “Cuiabá das Antigas”, cuja finalidade era compartilhar imagens históricas ou registros que marcaram a cidade e seus habitantes. Não demorou muito para que se tornasse um grande sucesso.

“Eu sempre gostei muito de cultura e história, e a de Cuiabá sempre me chamou muito a atenção. Como jornalista, sempre gostei muito de fazer matérias relacionadas à história, até porque eu penso que o jornalismo é fazer e contar histórias”.

Marcy conta que a ideia surgiu pouco antes da comemoração dos 300 anos de Cuiabá e seria como um hobby. Os seguidores, porém, só foram crescendo ao longo dos anos e hoje em dia chegam a cobrar periodicidade nas postagens quando ele passa alguns dias sem atualizar a página.

“Eu faço isso como um hobby. Não crio pra mim uma obrigação. Posto porque gosto, então a periodicidade varia dependendo da minha disponibilidade. Mas as pessoas me cobram muito e eu vejo que isso é legal pra cidade, que de certa forma acabo contribuindo pra que a história não pereça”, diz.

Apesar de ser cuiabano de alma, Marcy é manauara de nascimento, mas se mudou para cá aos dois anos de idade e, assim como a maioria dos cuiabanos de nascimento, não conhece toda a história da cidade.

“Eu falo: ‘Nossa, eu estou aqui há 40 anos e não sabia disso’. Então imagino que as pessoas também podem não saber. E aí, eu comecei a fazer pesquisas e pequenos textos para poder informar as pessoas que vão ler e conhecer um pouco mais a nossa cultura e história”.

Montando o acervo

Há grande uma diferença entre a facilidade dos dias atuais em reunir acervos em um só lugar e de acessá-los de qualquer lugar do Mundo através da internet, e a dificuldade comum que havia em décadas passadas.

Hoje em dia, muita coisa mudou. As pessoas têm câmeras nos celulares e podem fotografar e filmar a cidade a qualquer momento.

Marcy sentia falta então de reunir em um só lugar, com visibilidade e acessível, os registros mais antigos, antes só encontrados nos acervos e arquivos públicos. Embora muitos desses lugares já disponibilizem seus acervos digitalmente, muita coisa ainda não foi para o virtual e permanece somente no físico.

“Eu quis criar uma página no Instagram para fazer uma homenagem a Cuiabá, colocar fotos em um lugar que as pessoas pudessem ver. Muitas fotos antigas da cidade não estão reunidas em um lugar só, elas estão espalhadas, você não encontra um arquivo de Cuiabá de antigamente”.

Ele busca as imagens em acervos públicos, jornais a época, mas também conta com o apoio de vários seguidores que lhe enviam imagens. Muitas delas são de acervos pessoais de família, que talvez nunca ficassem públicas.

“Comecei indo atrás das imagens em bancos e arquivos públicos. Tem o Arquivo Público do Estado, a UFMT, o IBGE, o Misc e também Arquivo Público Nacional, que tem uma hemeroteca que reúne revistas e jornais antigos”.

“Muitas famílias tradicionais de Cuiabá que tinham condições de fazer foto e vídeo antigamente têm esse material guardado que não está disponibilizado para ninguém. Comecei a estimular as pessoas a procurarem em suas casas e mandar. Tenho recebido coisas muito legais, que não são de lugar nenhum, são de acervos particulares”.

Ele revela que só recentemente divulgou nos perfis quem estava por trás das páginas.

Marcy hoje também administra outra página, a Fazedor de Amanhecer, dedicada a postar trechos do poeta mato-grossense Manoel de Barros, que morreu em 2014. “É uma outra forma de resgatar a história daqui de Cuiabá. Manoel de Barros é um poeta muito importante, mas ele é muito mais conhecido fora de Cuiabá do que aqui mesmo, onde ele nasceu”, diz.

Hoje em dia, outras páginas semelhantes, que compartilham registros históricos da região de Cuiabá nas redes sociais, surgiram e também fazem sucesso nas redes sociais.

“É todo mundo tendo o mesmo trabalho de divulgar cultura e história. Então, quanto mais pessoas estiverem fazendo isso, melhor. Acho bacana. Quanto mais pessoas estiverem divulgando ou repassando suas imagens, acho que é melhor“, diz Marcy sobre a concorrência.

“Mas eu digo, o que eu acho que a minha é diferente das outras, é que pesquiso e tento dar uma linguagem acessível para quem vai ver para não ser só uma foto legenda ou só uma coisa com pouca informação”.

Veja o perfil do Cuiabá das Antigas:

Preservação da cultura cuiabana

Perguntado se acha que Cuiabá preserva sua cultura e sua história, o jornalista acredita que infelizmente não. Com um centro histórico em ruínas, parece que a cidade não está dando o devido valor ao seu rico passado.

“A gente vê [a situação de abandono] andando pelo Centro. Você passa pelo Centro Histórico de Cuiabá e está abandonado, é visível. É uma pena até”, lamenta.

Marcy acredita que iniciativas particulares, vindas da população, como a que ele faz com a página, são importantes na preservação e divulgação da história.

“Eu faço [esse trabalho] porque eu acho que é relevante. A história não pode se perder. Algumas das pessoas que eu entrevisto para conseguir a informação, daqui a pouco elas não estarão mais aqui. A informação vai com a pessoa embora, então é preciso resgata-la”.

Por fim, ele lamenta a situação de abandono do poder público está causando ao Centro Histórico da cidade.

“Eu acho que a cultura e o patrimônio histórico precisavam de uma atenção maior. Não sei se é falta de vontade política, mas tem muitas iniciativas que poderiam ser tomadas”, inicia ele.

“Se houvesse segurança e estímulo, [o Centro Histórico] é um ponto turístico para as pessoas de fora e para o próprio cuiabano, sabe? De ir lá à noite, ir num barzinho, num restaurante, num bistrô, numa galeria de arte, no museu. Mas as pessoas não têm esse estímulo e não têm a segurança. Então é uma pena porque vai se perdendo”, concluiu.

Para Marcy, o sucesso da página e os feedbacks que recebe do público é a prova que a população cuiabana tem sim interesse em saber sobre a cultura e história da cidade em que vive. Quem viveu as décadas passadas tem o saudosismo de relembrar e os mais jovens tem uma sede grande e muita curiosidade em saber e aprender mais.

Para a nova geração, restará esse trabalho de não deixar que tudo isso se perca, até porque, para muitos, ‘é conhecendo o passado que compreendemos o presente e construímos um futuro’. Para uma cidade que atualmente não cuida de seus monumentos históricos, são inciativas oriundas da própria população que tentam não deixar morrer um passado belíssimo que moldou a cidade.

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