Após mortes, sindicato pede Justiça e reclama da falta de apoio dos aplicativos

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O assassinato brutal dos três motoristas de aplicativo que ocorreu na região metropolitana de Cuiabá em abril despertou na sociedade, e ainda mais fortemente na categoria, um sentimento de revolta e indignação pela crueldade dos atos.

Essa sensação é representada nas palavras da presidente do Sindmapp (Sindicato dos Motoristas por Aplicativo de Mato Grosso), Solange Menacho. “Como pessoa, mas também como colega de profissão, me sinto extremamente triste em ver um ser humano morrer da forma que aconteceu. Uma barbárie, espero que a Justiça seja feita”, diz.

Solange ressaltou a luta do sindicato que preside por Justiça nesse caso e para a criação de mecanismos e leis estaduais para dar mais segurança para a categoria. Ela se reuniu com o deputado Eduardo Botelho (União) após o crime.

“Eu apresentei para o presidente da Assembleia Legislativa um projeto que já está em apreciação, de medidas paliativas. De modo que, juntando com outras formas já existentes, possa coibir assaltos e até mesmo esse tipo de fatalidade”, disse.

Menacho explica que com a proposta, agora o Governo do Estado, através do Ciosp (Centro Integrado de Operações de Segurança Pública), terá acesso à localização dos motoristas. Se parado mais de cinco minutos no mesmo local, ele irá receber uma mensagem se está “tudo bem”.

Caso não haja resposta, a viatura mais próxima da Polícia Militar será acionada para verificar a situação do condutor. “Não vai importar nem se o celular estará ligado ou não, o sistema terá acesso a essa localização”, explica.

O sindicato tem também orientado a fazer corridas somente pelos aplicativos e não mais particulares, por fora. Apesar da falta de apoio das plataformas, ainda é menos perigoso.

“Vendo como uma motorista, às vezes as corridas estão muito fracas e acaba obrigando os motoristas a fazerem esse tipo de corrida. Entretanto, a chance de você dar oportunidade ao assaltante agir [nessa ocasião] é bem maior”.

“É lamentável, mas as plataformas não dão suporte ao motorista de forma alguma. Até para conseguirmos saber quem é a pessoa que chamou o aplicativo, tem que ser por meio judicial”, completou.

Aos passageiros, ela dá um conselho: não chamar o aplicativo para terceiros, a não ser que seja uma pessoa muito próxima, como pai, mãe ou filho, por exemplo. Isso porque, qualquer problema, a corrida está no seu nome.

“Gostaria de fazer um pedido para a sociedade para que não chamasse aplicativo pra terceiros, a não ser muito próximos. Você esta colocando seu nome para outra pessoa. Se acontece alguma coisa, o único responsável é quem chamou o aplicativo”, diz.

Regulamentação da categoria

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou no início de março uma proposta de projeto de lei complementar que regulamenta o trabalho dos motoristas de aplicativo. O texto já está em debate na Câmara, onde está sendo analisado em comissões da casa antes de ser votado no plenário.

A medida, porém, vem causando uma série de divergências entre o governo, os motoristas e até as empresas de mobilidade. Em nome do sindicato, Solange declarou que é totalmente contra a essa regulamentação.

“Sou totalmente contra. Se parar para analisar, ter um [piso] mínimo hoje pode se tornar um teto máximo de ganhos. Então não concordamos”, iniciou.

Para ela, o principal ponto negativo é a remuneração da hora trabalhada. Na proposta, a remuneração seria de R$ 32,10, totalizando R$ 1.412 de renda mínima mensal.

Estima-se que os motoristas trabalhem uma média de 48 horas semanais (9,6 horas diárias) e recebam em média R$ 2.367 por mês, segundo uma pesquisa do IBGE realizada no quarto trimestre de 2022.

Além disso, seria incluída contribuição previdenciária. “Acredito que como todo trabalhador podemos contribuir para o INSS, mas que não seja uma coisa obrigada, ainda mais nossa categoria que não é CLT, somos autônomos. Não acho que nada que sejamos obrigados a fazer é visto com bons olhos pelo sindicato”, diz Solange.

Sobre um possível vínculo empregatício com as empresas, a presidente reclama que os trabalhadores pouco são ouvidos. Ela também não acredita que em caso de haver vínculo empregatício com as empresas, elas pagariam o suficiente para o motorista levar um salário digno pra casa.

“A empresa nunca vai deixar de ganhar. Se viesse a ouvir a categoria, colocasse [ganho por] quilômetro e tempo e diminuísse o que ela [empresa] ganha e aumentasse do motorista sem aumentar o valor para o passageiro, nós trabalharíamos mais tranquilos”.

Segundo a presidente, o sindicato tem intenção de apoiar um nome nas próximas eleições para a Câmara Municipal que venha “do volante”, para representar a categoria.

“Ainda vai ter que haver muita conversa pra alinhar, mas isso é para o futuro. Por enquanto, não vamos nos calar, vamos continuar aqui lutando pela melhoria e por mais segurança para os motoristas de aplicativo”, encerrou.

Fonte: Midianews