Cresce população de rua e comércio enfrenta onda de violência: Prejuízo

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Ainda que seja um local de importância para a cuiabania, o Centro Histórico tem se esvaziado em razão da insegurança que se espalha pelo local. A área tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artistico Nacional (Iphan) totaliza 13 hectares. Entretanto, muitos lojistas têm cogitado a ideia de deixar a região dos calçadões em razão do aumento da população em situação de rua.

Atualmente, o Plano de Gestão para o Centro Histórico de Cuiabá aponta a existência de 300 imóveis em situação de desuso ou subutilização na área tombada.

Dono da loja Duda Baby, no calçadão da Rua Galdino Pimentel, Gerson Luiz administra o comércio há 26 anos, enquanto seu sogro ficou por quatro décadas à frente da loja. Gerson é membro da Associação de Comerciantes do Centro Histórico e lida, diariamente, com problemas de furtos de fiação elétrica e destruição de estrutura externa em sua loja ou na de vizinhos.

“A gente já teve problema de pequenos furtos com esse pessoal em situação de rua, agora eles começaram a destruir a parte externa dos ar-condicionados, levar fiação elétrica… Então, a gente tem um problema muito sério, porque o que eles levantam com esse dinheiro é tão pouco em relação ao tamanho do prejuízo que nós temos ali. Vários imóveis de comércio foram invadidos três, quatro, cinco vezes e aí destruição é grande”, desabafa.

Devido ao vício em entorpecentes, a população de rua busca esses materiais como cobre ou metal para comprar drogas. Entretanto, já foram registrados meios mais criativos de invadir as lojas no centro.

“Eles geralmente entram pelo telhado. Aí o que eles fazem? Eles espalham as telhas, entram no forro, destroem o forro pra entrar dentro do comércio e, algumas vezes, lá dentro tem praticamente nada que interessa eles”, explica Gerson.

No caso de Roberto Peron, que é dono da loja Mercadão da Malha há 43 anos – com unidades no calçadão da rua Galdino Pimentel e na Antonio João – o empresário não passou por prejuízos maiores. No entanto, ele alerta que é preciso ter atenção, já que os moradores em situação de rua tendem a entrar em grupo para distrair os lojistas e efetuar os furtos.

“Na minha loja, uma funcionária estava no caixa quando, de repente, entra um [morador em situação de rua] para pedir uma água e entra outro junto. Tinha um celular no balcão e bastou uma distração pro cara pegar o celular e sair correndo. Você tem que ter o maior cuidado do mundo no centro, porque eles entram de dois ou três. Um distrai uma pessoa pra cá, outro distrai pra lá e pega a mercadoria. Com certeza já levaram algumas roupas também, mas a gente não tem tempo de perceber, né?”, explica.

Concentração da população de rua

Foto: Rodinei Crescêncio/Rdnews

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Na opinião dos comerciantes, o aumento dos crimes na região dos calçadões se deu em razão da distribuição de marmitas para a população de rua em pontos próximos – Morro da Luz e no Beco do Candeeiro.

Desde o dia primeiro de janeiro até 22 de março, cerca de 38 pessoas foram conduzidas em flagrante na região do Centro Histórico. No entanto, esse dado não reflete o total de crimes cometidos e registrados por meio de boletim de ocorrência.

Segundo a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp – MT), o policiamento na região é conduzido 24 horas pela 21ª Companhia da Polícia Militar por meio de rondas ostensivas e repressivas. Mesmo que haja ocorrência de crime na região, a investigação fica a cargo da Delegacia Especializada de Roubos e Furtos (Derf), da Polícia Civil.

Assistência social

A Secretaria Municipal de Assistência Social, em nota, afirmou que a população de rua do Centro Histórico é assistida continuamente pelos programas da pasta. Atualmente, a secretaria tem se empenhado no cadastro das pessoas em situação de rua para que retomem contato com seus familiares.

“Trata-se do “Quero te Conhecer” Pop Rua que consiste na abordagem social da população em situação de rua para sensibilização e reconhecimento da importância do acolhimento em uma das quatro unidades do município ou, até mesmo, contribuir para que essas pessoas retornem às cidades de origem”, consta na nota.

O município oferece três unidades de acolhimento para adultos na Estrada da Guia, Manoel Miráglia e no Porto, cada uma com 50 vagas. Além disso, a Associação Terapêutica Paraíso é um dos polos de assistência, tendo capacidade de 120 vagas. O encaminhamento para essas unidades, no entanto, acontece pelo Centro de Referência Especializado à população de rua (Centro Pop) ou pelo Centro de Referência Especializado em Assistência Social (Creas).

Foto: Rodinei Crescêncio/Rdnews

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Futuro do comércio na região

Mesmo com as ações para auxílio da população de rua, o clima de insegurança reflete na falta de clientes e, consequentemente, na dificuldade dos lojistas.

Uma das ações criadas para aquecer o comércio no Centro Histórico foi a implementação do estacionamento rotativo. No entanto, os comerciantes não acreditam que a medida tem funcionado para atrair os consumidores.

Para Gerson Luiz, ser comerciante em um calçadão já foi motivo de orgulho. Hoje, o lojista se diz pessimista diante da violência no centro.

“Em todo o mundo, o melhor lugar para comércio é no calçadão, exceto em Cuiabá. Então, o centro está sendo esvaziado de gente, esvaziado de comércio, esvaziado de trabalhadores, porque tem um monte de trabalhadores que não querem trabalhar por lá”, comenta.

Roberto Peron, por sua, vez diz que dá tristeza de ver o trabalho duro empenhado nas quatro décadas de loja ser dilacerante. Ainda mais por um motivo que foge de seu controle enquanto empresário.

“Se continuar da forma que tá, eu não sei se eu consigo vencer o ano de 2024. A rentabilidade que eu tenho hoje não paga o custo da loja aberta e é muito triste a gente falar isso. Uma vida que foi, praticamente, tocada aqui, eu eduquei meus filhos, dei faculdade para eles e gostaria de tocar para até quando tivesse formas. Mas, se ficar do jeito que está, só empresas grandes vão continuar, que tem suporte para aguentar um pouco mais”, desabafa.

Fonte: RD News